Dois Santos com muitas semelhanças


 “A espiritualidade cristã, a par da admiração contemplativa
das criaturas que encontramos em São Francisco de Assis, desenvolveu também uma rica e sadia compreensão do trabalho, como podemos encontrar, por exemplo, na vida do Beato Carlos de Foucauld e seus discípulos”. (CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI’ DO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM, 125).

Enzo Bianchi é religioso, formado em economia pela Universidade de Turim, jornalista e escritor italiano, fundador e ex-prior da Comunidade Monástica de Bose. Bianchi afirma que: “Depois de São Francisco de Assis e, agora, depois de Charles de Foucauld, toda vida religiosa e cada forma de testemunho na Igreja não podem mais ser vividos como antes: Charles mudou as formas até às raízes”.

A busca pelo diálogo

Francisco de Assis na Quinta cruzada, destinada a retomar os lugares santos do Cristianismo escandalizou-se com a ambição que constatou na cruzada. Pregou aos cruzados contra a cruzada. O santo conseguiu ser recebido pelo sultão malik al Kamil, comandante do exército do Islã. Por fim, o Sultão concedeu a Francisco e aos que vestirem veste marrom salvo conduto para adentrarem a terra santa.

Charles de Foucauld dedicou toda a sua vocação religiosa no deserto do Saara junto aos mulçumanos. Os tuaregues chamam Charles de Foucauld de “marabuto branco”, isto é, o homem da oração e o homem de Deus. A missão de Foucauld foi o inverso do proselitismo. Através de sua vida, revela Deus presente e completamente comprometido com os pobres no amor, na liberdade e no respeito pela fé dos mulçumanos, por isso é conhecido como irmão universal.

Igualdade e democracia

Na tradição da Igreja religiosa no tempo de São Francisco, o poder interno era exercido de forma monárquica e vitalícia. Além do prior do mosteiro, o bispo tinha mandato até a morte. O grupo Franciscano inaugura formas radicais de igualdade e democracia na tomada de decisões da nova comunidade, dando todo poder aos capítulos. Os mandatários passaram a se chamar de “ministros” que servem a disposição do coletivo.

Irmão Carlos ao escrever a regra para a congregação que queria fundar, os Irmãos do Sagrado Coração, escreve que todos devem ser chamados de irmãos, inclusive os Padres que iriam pertencer ao grupo e até o superior, que não teria esse nome, seria chamado de irmão. Para todos somos irmãos, pois somos filhos de um mesmo Pai e irmãos de Jesus de Nazaré.

Retorno ao Evangelho 

Frei Francisco e seu movimento pregam um retorno radical ao evangelho de Nosso Senhor fonte na qual mais tarde descobrirá seu ideal de vida: “Não leveis nem sandálias e nem alforje…”, e da qual fará inspiração para si e para seus irmãos. Era sua preocupação em seguir o Evangelho à risca do que nele estava contido, coisa que fez também à sua regra. Percebemos então que separar São Francisco do Evangelho é impossível.

Já Irmão Carlos leva o lema “gritar o Evangelho com a vida”. De seus escritos: “Toda a nossa existência deve ser de gritar o Evangelho de cima dos telhados. Toda a nossa pessoa deve respirar Jesus. Todas as nossas ações e toda a nossa vida deve proclamar que pertencemos a Jesus”. Para Ele é imprescindível para imitar Jesus, ter evangelho como modelo.

O Mistério da encarnação

Vivendo em situações diversas, com sete séculos de distância entre si, Charles e Francisco fizeram um encontro comum com o Cristo humilde e pobre. Todos os elementos das espiritualidades de ambos brotam dessa fonte, a Kenosis, o abaixamento de Deus. Os dois procuram seguir Jesus e se conformar a ele nos mínimos detalhes, tentando atualizá-lo e encarná-lo.

Conclusão

Portanto, utilizamos de paralelos como forma didática para mostrar o caminho espiritual percorridos pelos dois homens de Deus que com suas espiritualidades e nos indicam o caminho de Nazaré, porém existem diferenças na vida e caminho de ambos, mas a intenção foi mostrar quem ambos viveram intensamente o evangelho de Nosso Senhor, encarnando-o com palavras e exemplos.


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