O TEMPO DE CHARLES DE FOUCAULD



Charles de Foucauld nasceu no dia 15 de Setembro de 1858 em Estrasburgo, França, e morreu no dia 1 de Dezembro de 1916 no Saara da Argélia, em Tamanrasset.


Charles de Foucauld é conhecido como: "Irmão Carlos de Jesus”, “Irmão Universal”, “Apóstolo do Saara” e “Eremita macro-ecumênico”. Sua vida e sua obra são fonte inspiradora de uma grande família espiritual espalhada no mundo inteiro. Aproximadamente: 20 Congregações e dezenas de Fraternidades Sacerdotais e Leigas. Sua espiritualidade é em “Jesus de Nazaré”.

Charles de Foucauld foi monge trapista, era geógrafo, linguista, antropólogo, teólogo, oficial militar, padre, missionário, eremita no deserto do Saara da Argélia e de rica família aristocrática, tendo o título de visconde.

O autor do excelente livro: A Aventura Mística de Charles de Foucauld, Dr. Michel Carrouges, advogado e escritor francês escreve: “Em 1873 a irreligião triunfa. É o tempo de Berthelot, Renan, Taine, Anatole, Nietzsche, Marx e Rimbaud. Incrédulos burgueses e profetas do prometeísmo ateu combatem a religião por toda parte. Um pretende que não há mais mistérios, outro se dedica a destruir o Evangelho palavra por palavra, outro assegura que vícios e virtudes são produtos fisiológicos, ainda um não vê na religião senão o fantasma produzido por uma organização social má...” (p.19).

Três grandes pensadores ateus se destacam mundialmente: Karl Marx (1818-1883), filósofo e economista alemão, pai do comunismo. Charles Darwin (1809-1882), naturalista e biólogo inglês, pai da teoria evolucionista e Sigmund Freud (1856-1939), psiquiatra austríaco e criador da psicanálise.

Para Marx: "O fundamento da crítica irreligiosa é: o homem cria a religião; não é a religião que cria o homem”. “A religião é o soluço (o suspiro) da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de um estado de coisas carente de espírito. A religião é o ópio do povo. A abolição da religião enquanto felicidade ilusória do povo é uma exigência que a felicidade real formula”.

Darwin viveu a questão religiosa em perplexidade. Na sua Autobiografia, escreve que é extremamente difícil, ou melhor, impossível "conceber este imenso e maravilhoso universo, incluindo o homem, como sendo o resultado do acaso cego ou da necessidade. Quando começo a refletir assim, sinto-me obrigado a recorrer a uma Causa Inicial que possua uma mente inteligente, até certo ponto análoga à mente do homem; e mereço ser chamado Teísta". Mas, depois, "surge à dúvida" e confessa: "Não posso pretender lançar qualquer luz sobre problemas tão abstrusos. O mistério do início de todas as coisas é insolúvel para nós; e por mim contento-me em permanecer Agnóstico”.

Para Freud, a religião surgiu de uma necessidade de defesa contra as forças da natureza, como todas as outras realizações da civilização. No indivíduo, ela surge do desamparo. Esse desamparo é inicialmente o desamparo da criança, e posteriormente, o desamparo do adulto que a continua. Sendo assim, Freud afirma que "é a defesa contra o desamparo infantil que empresta suas feições características à reação do adulto ao desamparo que ele tem de reconhecer - reação que é, exatamente, a formação da religião".

Mais tarde ele diz: "Assim, a religião seria a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai". Freud afirma, porém, que as religiões estão cheias das mais gritantes contradições e discordâncias com a realidade que conhecemos. Então, ele se pergunta: Sendo as religiões contraditórias, de onde vem a sua força? Onde reside à força interior das doutrinas religiosas, independente, como são do reconhecimento da razão? A isso ele responde dizendo que as ideias religiosas são ilusões, realizações dos mais antigos, fortes e prementes desejos da humanidade. O segredo de sua força reside na força desses desejos.

Dentro desse contexto muitos perderam a fé e tornaram-se inimigos da Religião, principalmente da Igreja Cristã. Charles de Foucauld faz parte desse contexto, passa por uma crise terrível, no entanto, tem um final feliz: reencontra a fé e torna-se um célebre convertido e eremita no deserto do Saara argelino. Escreverá mais tarde: “Durante doze anos, vivi sem nenhuma fé; nada me parecia suficientemente provado; a igual fé com que se seguiam religiões tão diversas me parecia à condenação de todas”. (Carta a Henry de Castries, 14 de agosto de 1901).

CONVERSÃO


Questionado pela fé dos muçulmanos, Charles de Foucauld vai em busca de Deus, e acompanhado com a sabedoria de sua prima Marie de Bondy, conhece o ínclito Padre Henri Huvelin, vigário da paróquia de Saint Augustin, (30 de outubro de 1886), confessa e encontra a fé. Charles tem 28 anos. Ele escreve: "Assim que eu acreditei que Deus existe, eu entendi que eu não podia fazer outra coisa senão viver só para ele".

Escreve: “O Islão provocou em mim uma reviravolta profunda... Ver esta fé vê-los viver na presença contínua de Deus fez com que eu entrevisse algo maior e mais verdadeiro que as ocupações mundanas. Pus-me a estudar o Islão, depois a Bíblia”. (Carta a Henry de Castries, 08/07/1901).

Marie de Bondy desempenha um papel muito importante na sua conversão. Mais tarde, ele descreveu como "anjo na terra que ele pode confiar”. Mudando sua percepção de fé: Escreveu: "Em Paris eu encontrei-me com pessoas muito inteligentes, muito virtuosas e muito cristãs. Eu pensei que talvez essa religião não era um absurdo (Carta ao Padre Guerin, 31 de maio de 1907).

VIDA DE GUERRAS


A vida de Charles de Foucauld foi tremendamente marcada por guerras. Com 12 anos estoura a guerra franco-prussiana, como oficial combate na África, ficou chocado com o massacre dos armênios pelos turcos e é assassinado no segundo ano da Primeira Guerra Mundial.

A guerra franco-prussiana ou guerra franco-germânica (19 de julho de 1870 - 10 de maio de 1871) foi um conflito ocorrido entre Império Francês e o Reino da Prússia no final do século XIX. Durante o conflito, a Prússia recebeu apoio da Confederação da Alemanha do Norte, da qual fazia parte, e dos estados do Baden, Württemberg e Baviera. A vitória incontestável dos alemães marcou o último capítulo da unificação alemã sob o comando de Guilherme I da Prússia. Também marcou a queda de Napoleão III e do sistema monárquico na França, com o fim do Segundo Império e sua substituição pela Terceira República Francesa. Também como resultado da guerra ocorreu a anexação da maior parte do território da Alsácia-Lorena pela Prússia, território que ficou em união com o Império Alemão até o fim da Primeira Guerra Mundial.

O chanceler prussiano Otto Von Bismarck e seus generais estavam interessados em uma guerra contra a França, pois esse país punha empecilhos à integração dos Estados do sul da Alemanha na formação de um novo país dominado pelo Reino da Prússia - o Império Alemão. Bismarck, o unificador da Alemanha, preparara um poderoso exército e conhecia a situação precária do exército francês. Sabia também que, se fosse atacado pelos franceses, teria o apoio dos estados alemães do Sul e, derrotando a França, já não haveria nenhum obstáculo a seu projeto de unificar a Alemanha.

O maior triunfo de Otto von Bismarck ocorreu em 18 de janeiro de 1871, quando Guilherme I da Prússia foi proclamado imperador da Alemanha em Versalhes, no antigo palácio dos reis da França. Para a Prússia, a proclamação do Segundo Império alemão foi o clímax das ambições de Bismarck de unificar a Alemanha. A onerosa obrigação francesa só foi cumprida em setembro de 1873. Naquele mesmo mês, as tropas alemãs abandonaram a França, depois de quase três anos de ocupação.

Por causa desse conflito não foi possível continuar o Concílio Vaticano I.


A VIDA TEM SENTIDO


A experiência de conversão de Charles de Foucauld foi muito profunda, a sua busca por Deus foi abissal e a sua missão por demais impactante. Ele compreendeu que a fé é a fortaleza para suportar os obstáculos e ela dá sentido à vida. Ele entendeu que o ateísmo é uma tragédia e isso ficou muito claro no suicídio do seu amigo íntimo, também explorador no Saara argelino e vice-presidente da Sociedade Geográfica de Paris, Remi Duveyrier que era agnóstico.

Quando os homens querem construir um paraíso na terra sem Deus a catástrofe é gigantesca. Os homens necessitam de mitos e quer algo em que acreditar, algo em que se agarrar, quando rejeitam o Criador, a autodestruição é certa e cruel.

O célebre historiador inglês Tony Judt autor do famoso livro: Reflexões Sobre Um Século Esquecido – 1901-2000, afirma que apenas três psicopatas (Adolf Hitler, Josef Stalin e Mao Tsé-Tung) conseguiram levar à morte no mínimo 120 milhões de pessoas.

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein afirmou: “Crer em Deus significa ver que a vida tem sentido”.

Só em Deus o ser humano tem a sua dignidade preservada e a sua liberdade canalizada para o bem comum. A mensagem de Deus em Cristo é amar o próximo e viver na plenitude da paz e da justiça.


CONCLUSÃO


Charles de Foucauld viveu a radicalidade do amor para com Deus e para o próximo. Sua missão era fazer e acontecer o Evangelho de Cristo em qualquer lugar, tal acontecimento se faz a partir de sua vida, ou seja, ser testemunho concreto de servo do Reino de Deus entre todos. Disse: “Ter verdadeiramente fé, a fé que inspira todas as ações, essa fé sobrenatural que despoja o mundo da sua máscara e mostra Deus em todas as coisas; que faz desaparecer todos os impossíveis; que retira sentido às palavras de inquietação, de perigo, de medo”. E afirma de forma magistral e mística: “Jesus só merece ser amado apaixonadamente”. “Quanto mais se ama, melhor se reza”.


Frei Inácio José do Vale, FCF

Doutor em História do Cristianismo
Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas - Charles de Foucauld

Fontes:

FontesCARROUGES, Michel. A aventura mística de Charles de Foucauld. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1958.CARROUGES, Michel. A aventura mística de Charles de Foucauld. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1958.:Bibliografia


https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_franco-prussiana

http://lrsr1.blogspot.com.br/2011/04/karl-marx-religiao-e-o-opio-do-povo.html

http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/darwin-e-a-religiao-1433054.html

http://glauberataide.blogspot.com.br/2007/10/freud-e-religio-neurose-obsessiva.html

Ultimato, julho-agosto de 2010, p. 15. 
CARROUGES, Michel. A aventura mística de Charles de Foucauld. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1958.
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